27.6.12

"Sombras da Noite": Tim Burton e Johnny Depp em mais uma ótima parceria

NÃO, eu não assisti ao novelão dos anos 60 no qual esse filme se baseia e sinceramente não tenho interesse nenhum em ver. Vou falar do filme apenas, ponto.

EL AMANTE FELINO apresenta:
SOMBRAS DA NOITE

Em "Sombras da Noite" (Dark Shadows, 2012), 868592113606978371029173969772414497032643817597927ª parceria entre o cineasta Tim Burton e o astro Johnny Depp, acompanhamos a história de Barnabas Collins (Depp), um figurão que jura uma vida amorosa ao lado de Josette DuPres (Bella Heathcote), em seu amado castelo de Collinwood. Entretanto, Barnabas acaba quebrando o coração de Angelique Bouchard (Eva Green), que é, em segredo, uma bruxa. Obcecada por Barnabas, Angelique faz com que Josette se jogue de um penhasco e seu amante se transforme em um vampiro, condenando-o a sofrer para toda a eternidade. Como se não bastasse, a bruxa lança o povo contra Barnabas, que é trancado em um caixão e enterrado na mais cruel e concreta solidão. Séculos depois, Barnabas é desenterrado, e além de ter de se adaptar às novidades dos anos 1970, se determina a reerguer a família Collins e se depara com um novo e peculiar amor.

Tim Burton trata aqui com dois fatores pelos quais ele já mostrou em toda sua carreira ser obcecado: A crônica familiar e o amor vitoriano. Victoria Winters, a suposta reencarnação de Josette DuPres, e interpretada pela mesma atriz, é a garota pela qual Barnabas se apaixona à primeira vista, devido a forte ligação com seu amor anterior, e para ajudar, Victoria é apresentada como a recém-chegada babá de David Collins, o que torna a conquista de Barnabas por Victoria uma parte da crônica familiar, que o clímax apresenta como foco da história. Entretanto, apenas a parte dos sentimentos de Barnabas é bem enfasada; o que Victoria sente pelo vampiro ou sua conexão com Josette não são bem desenvolvidos, e quando tais coisas vem à tona, parecem repentinas.

As atuações são todas grandiosas, e como esperado, Johnny Depp rouba a cena do elenco inteiro. Bem, ao menos quase; Eva Green e sua Angelique Bouchard são um ponto bastante forte no filme. A vilã é extremamente má e cegamente obcecada por aquele que amaldiçoou - obsessão esta que jura ser amor. Me lembrou inclusive o Coringa de Jack Nicholson, que no "Batman" de Tim Burton, se apaixona por Vicki Vale, sendo esta paixão o que guia boa parte de suas atrocidades no filme. 

Carisma é o que não falta nos atores, mas Chloë Moretz Grace, que você já conhece como minha futura esposa, se destaca entre os coadjunvantes. Mesmo com pouca importância para a trama central, a personagem dela, Carolyn Stoddard, é uma das mais interessantes da fita, já que representa a adolescente rebelde da família que esconde um segredinho o qual não vou contar e você vai ficar aí morrendo de curiosidade. A menos que já tenha visto o filme.

Por falar nisso, a formação da família é bastante curiosa, criada estéticamente e com seus representantes escolhidos à dedo. Temos a megera; Elizabeth Stoddard, interpretada por Michelle Pfeiffer (que já trabalhou com Burton em "Batman: O Retorno"); o filho esquisito, David Collins (Gulliver McGrath); o pai canalha, Roger Collins (Jonny Lee Miller); a babá, Victoria Winters; o empregado beberrão, Willie Loomis (Jackie Earle Haley); a adolescente rebelde, Carolyn Stoddard; a intrusa, Dra. Julia Hoffman (Helena Bonham Carter) e bem, o vampiro. Cada um destes é interpretado eximiamente pelo elenco competente e dispõem de uma excelente química entre si.

Ao todo, o personagem de Johnny Depp é o que mais sai ganhando, vemos bastante do quanto Barnabas evoluiu desde que fora trancado no caixão; a falta de piedade com pessoas com intenções impuras, a repugnância de si próprio e do ato de matar para sobreviver. Uma das coisas mais divertidas da fita é vê-lo se adaptando aos tempos modernos e como ele reage a coisas que para nós são tão normais (como por exemplo um M gigante e brilhante do McDonald's, ou uma estrada de asfalto). O humor acaba se embasando em maior parte neste fator, um habitante antiquado nos anos 70, ou no fato de Barnabas ser um vampiro tentando esconder isso de sua família da nova geração. A mistura destas coisas é perfeita, e nos rende divertidíssimas piadas.

Os efeitos especiais, tanto práticos quanto computadorizados, seguem o padrão de qualidade dos últimos blockbusters lançados: muito bons. A fotografia é tudo aquilo que se pode esperar de um filme de Tim Burton: linda, e é curioso como esta é equilibrada entre os tons descoloridos de um habitual e sombrio filme vampiresco e a extravagância dos anos 70. De uma coisa você pode se assegurar: o sangue é bem vermelho. O trabalho com luzes e sombras segue essa reta com um resultado admirável, e a mixagem de som, apesar de não se destacar tanto quanto em outros filmes do gênero, continua sendo boa.

Burton faz aqui uma ótima seleção das músicas e bandas para a trilha sonora, temos "Night In White Satin", do Moody Blues, e hits setentistas como "Bang A Gong (Get It On)", de T. Rex e muito, muito Alice Cooper! Quanto às composições originais para o filme, Danny Elfman não falha em desenvolver mais um excelente score para o diretor. Enquanto as bandas setentistas servem de background para a parte mais humorada de "Sombras da Noite", Danny Elfman cuida do lado vampiresco e sombrio.

O que falar dos visuais e figurinos? As locações e as caracterizações dos cenários são bastante equilibradas; temos tanto as florestas obscuras e o castelo coberto de arbustos à noite quanto a cidade super iluminada e decorada de hippies e jukeboxes. Outro ponto curioso é ver Barnabas se vestindo com roupas antigas de 1700 em meio ao cenário disco, na época dos topetes e camisões de golas pontudas.

"Sombras da Noite" é em muito superior às minhas expectativas, contando com uma história ao mesmo tempo bonita e divertida movida por um elenco de ponta em seus ótimos personagens. Alguns pontos ali e aqui deveriam ter sido melhor observados, sim, mas do jeito que veio, esse filme já é muito bom e um enorme "Foda-se" aos vampiros brilhantes da atualidade. Eu diria que compraria "Sombras da Noite" em Blu-ray.

Nota: 8.8

2 comentários:

  1. Bem... Todos nós já sabemos como é os trabalhos com Deep e Burton, e confesso que parceira melhor que esta não existe, porque já deixou de ser algo apenas profissional. Agora em relação a Eva, eu quero muito ver como é ela trabalhando com ele pois afinal é sua primeira parceria com ela em muitíssimos anos de trabalho do Burton.

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  2. É verdade. Eva Green é uma ótima atriz, e mesmo ela não tendo trabalhado com Burton antes, não estranhei quando aconteceu. Sabia que esses dois trabalhariam juntos uma hora ou outra!

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