6.6.12

Alien, a obra-prima de Ridley Scott

Na sua casa, todos vão ouvir você gritar.

EL AMANTE FELINO apresenta
ALIEN: O OITAVO PASSAGEIRO

Esta crítica certamente contém spoilers

Na véspera da pré-estreia do aguardado "Prometheus" (e sim, eu estarei lá), eu não poderia deixar de trazer para vocês leitores minha crítica do clássico insuperável de Ridley Scott. Antes que alguém comente sobre o assunto inevitável, já vou esclarecer: NÃO vou comparar "Alien" e "O Predador" na crítica para concluir qual dos dois é melhor. São dois filmes distintos que tiveram, por infortúnio, seus universos ligados por um crossover sem sentido regido por um péssimo diretor. Agora, à crítica.

"Alien: O Oitavo Passageiro" conta a história de um grupo de sete tripulantes de uma nave espacial que, para checar uma mensagem misteriosa captada, aterrissa em um planeta desconhecido, que revela-se quase desértico. O problema é que ao retornar para sua nave, os tripulantes trazem consigo uma nova forma de vida, sem conhecimento de tal feito, e então, passam a ser caçados um por um por este oitavo passageiro.

Estamos tratando aqui de um filme de terror de verdade, não é um longa que aposta em fórmulas de época que com o tempo, perdem seu fator de causar medo, como o "A Hora do Pesadelo" de Wes Craven. Não, Ridley Scott usa em "Alien" aspectos que atormentarão a mente humana durante toda a sua existência. São estes o inimigo adaptável, a falta de informação, a escassez de recursos, o conflito interno, a claustrofobia, a solidão gradativa e especialmente o escuro. Há algo que o ser humano tema mais do que a falta de companhia? Do que estar sozinho com as luzes apagadas? Do que perder seus colegas e enxergar então que sem eles, não é nada?

A partir do momento em que um ambiente torna-se escuro, a previsibilidade do que pode acontecer ali diminue consideravelmente, e esse é um ponto muito bem explorado na fita de Scott. Unindo isto ao fato da criatura Xenomorfa ser um ser totalmente desconhecido, o resultado é um filme quase totalmente imprevisível. O Alien nos é apresentado como um organismo vivo perfeito e criativo, mas ainda sim, há mistério ao seu redor, e esse desconhecimento faz com que não possamos imaginar o que aquela criatura vai fazer a seguir, ou onde vai surgir, ou como.

De onde veio o Alien? O que é o Space Jockey, aquele extra-terrestre fossilizado encontrado no planeta LV-426? Quem enviou a mensagem vinda do planeta para a nave de Ripley? A falta destes detalhes (que serão explicados no vindouro "Prometheus") não torna "Alien" um filme incompleto, mas sim misterioso. O roteiro de Dan O'Bannon e a maestria de Scott deixam claro que estas coisas não são explicadas para aplicar mais suspense à trama e não por furo, falta de criatividade, pressa ou até mesmo preguiça (sim, esse pequeno problema assola alguns roteiristas por aí).

O desespero dos personagens surge à medida de que lhes é revelado o quão pouco eles sabem, e também com a diminuição de tripulantes. Os ambientes escuros são um playground para o Alien, que já é bastante familiarizado com a camuflagem, e o medo só aumenta quando os tripulantes têm de lidar com as habilidades adaptáveis e mecanismos inteligentes de defesa do nosso intruso. O longa acaba nos mostrando o quão fraco e diminuto o ser humano é diante da perfeição de um ser que nada mais faz do que se alimentar, sobreviver e reproduzir. 

Esta é, por sinal, uma grande inovação que Ridley Scott trouxe aos filmes de ETs. Antes de "Alien", todos os filmes de extra-terrestres consistiam em alienígenas que tentavam dominar a Terra, destruí-la, ou coisa parecida. Nesta fita temos um organismo de outro mundo que quer só dar continuidade à sua espécie, e mais nada. Mas, para tal objetivo, ele terá de matar, afinal é um parasita. Vidas cheias de furos são cessadas para dar lugar ao ser perfeito. Depois disso, muitos filmes do gênero tentaram usar alienígenas assassinos para fazer o mesmo que a obra de Scott fez, mas poucos conseguiram ser tão bons quanto. Um exemplo dos que conseguiram é justamente "O Predador", que inovou o gênero mais uma vez, mas sobre isso você lerá quando eu resenhar o filme do cabeça-de-crustáceo. 

As atuações são todas ótimas. Os grandes destaques são Sigourney Weaver, interpretando a lendária rainha-da-brasa Ripley, e Ian Holm como o androide Ash. O resto do elenco faz muito bem seu serviço, porém se sustenta mais no carisma dos atores, estando todos interpretando personagens que vêm a conquistar o público, tornando as cenas de suas mortes mais efetivas sobre tal.

Os sets são grandiosos, como na maioria das produções sci-fi de Ridley Scott, e o diretor consegue fazer uma nave espacial imensa transpirar claustrofobia só pelo fato de estar sendo assombrada por algo imprevisível. Para a ajuda de tal, é feito um excelente trabalho com a manipulação de luz (quase sempre sombras, na verdade) e com a fotografia sombria usada no longa. Estes pequenos fatores acabam criando um novo, que é a claustrofobia num espaço que na verdade, é amplo, e isso é somado à imprevisibilidade, criando então o suspense perfeito.

A trilha sonora é boa e não tão presente - não seria mais necessário do que o apresentado para que o filme exercesse seu efeito. O silêncio acaba também por ser um contribuidor essencial para o medo, e ainda mais para os sustos, quando devidamente mesclado à ótima mixagem de som da fita. Os efeitos especiais práticos, que compõem a maior parte do visual, são muito bem utilizados. Entretanto, os efeitos computadorizados não desapontam também. Para um filme de 1979, "Alien" é bem feito DEMAIS. O filme sofre apenas com alguns erros de continuidade, mas com isso todos os melhores sofrem, não é mesmo, Steven Spielberg?

"Alien: O Oitavo Passageiro" (Alien, 1979) é um filme que alcança a excelência em todos os seus pontos como um longa de terror, suspense e ficção científica. Um clássico indiscutível que deverá amedrontar muita gente por muito tempo, que com certeza ainda tem mais de si para revelar e que prova que para assustar não são necessárias cenas extremas e litros de sangue falso. Ouviu, senhor Srdjan Spasojevic?

Nota: 10,0

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