13.6.12

Análise - Asilo Arkham


“Mas eu não ando com loucos”, observou Alice.
“Oh, você não tem como evitar”, disse o Gato,
“somos todos loucos por aqui. Eu sou louco, você é louca”.
“Como você sabe que eu sou louca?”, disse Alice.
“Você deve ser”, disse o Gato, “senão não teria vindo para cá”.

E com este trecho de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, se inicia uma das mais incomuns histórias do Batman: Asilo Arkham (Arkham Asylum: A Serious House on a Serious Earth). Escrita pelo famoso roteirista escocês Grant Morrison e ilustrada magistralmente por Dave McKean, foi publicada em 1989. Diferente do estilo de histórias de super-heróis que estamos acostumados e com roteiro maduro e introspectivo, recheada de simbologias, além de uma arte marcante e detalhista até com as fontes utilizadas nas falas de cada personagem, é uma leitura no mínimo interessante.



A premissa da história é simples. Após tomar o controle do asilo e fazer de reféns os médicos e psicólogos, os internos, liderados pelo Coringa, fazem apenas uma demanda: Batman deve se juntar a eles. O denso teor psicológico que se segue é impressionante. Tanto a narrativa quanto as imagens, estas últimas as mais belas que já vi em uma história do Batman, evocam uma sensação de surrealismo sufocante, como se o leitor estivesse preso junto ao protagonista em um pesadelo.
A representação dos clássicos inimigos do Homem-Morcego também é única e perturbadora. Somos apresentados a um Coringa que é a própria personificação da loucura, um Cara-de-Barro decrépito e pestilento, um Chapeleiro Maluco pedófilo... Talvez uma das mais marcantes representações seja a do Duas-Caras, que após passar por diversas terapias com o objetivo de fazê-lo tomar decisões sem depender de sua moeda, acabou se tornando claramente decadente e até digno de pena, incapaz de tomar decisões por mais primitivas que fossem.


Ao passo em que acompanhamos a jornada do Cavaleiro das Trevas, vemos também trechos da história do falecido fundador do asilo, Amadeus Arkham, desde o que o motivou a seguir caminho na área de psicologia até os traumáticos eventos que mudaram sua vida. Com o desenrolar do enredo, podemos perceber como esses dois focos diferentes na história acabam convergindo para um mesmo ponto.


Ao fim da história, a questão que o Coringa queria provar ainda paira no ar: será que o Batman é mesmo tão diferente dos vilões que ele mesmo encarcera no asilo? O quão tênue é essa linha entre a razão e a insanidade? É algo que até mesmo o Batman se pergunta:
“Às vezes eu... Questiono a racionalidade de minhas ações. E tenho medo de que quando eu passar por aqueles portões do asilo... quando eu entrar no Arkham e as portas se fecharem atrás de mim... Será como voltar para casa.”


- Laís

3 comentários:

  1. Eu pretendia citar esse trecho de Alice na minha crítica de "O Cavaleiro das Trevas"! Haha

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  2. Muito bacana a crítica, bem escrita e objetiva. Adorei!

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  3. Essa história é tão marcante, inovadora (por que, não?) e vanguardista - Morrison bebeu muito peyote - que muita gente que nunca quis ler um quadrinho de super heroi mensal, buscou ler e se lambusou no " melado" do escocês esotérico. Parabéns por nos brindar com essa resenha, Laí, esse é um dos trabalhos da nona arte que devem ser revisitados inúmeras e vezes por diversos leitores, sempre!

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