“Mas eu não ando com loucos”,
observou Alice.
“Oh, você não tem como evitar”, disse
o Gato,
“somos todos loucos por aqui. Eu sou
louco, você é louca”.
“Como você sabe que eu sou louca?”,
disse Alice.
“Você deve ser”, disse o Gato, “senão
não teria vindo para cá”.
E com este trecho de Alice no País das
Maravilhas, de Lewis Carroll, se inicia uma das mais incomuns histórias do
Batman: Asilo Arkham (Arkham Asylum: A Serious House on a Serious
Earth). Escrita pelo famoso roteirista escocês Grant Morrison e ilustrada magistralmente por Dave McKean, foi publicada em 1989. Diferente do estilo de
histórias de super-heróis que estamos acostumados e com roteiro maduro e
introspectivo, recheada de simbologias, além de uma arte marcante e detalhista
até com as fontes utilizadas nas falas de cada personagem, é uma leitura no mínimo
interessante.
A premissa da história é simples. Após tomar o
controle do asilo e fazer de reféns os médicos e psicólogos, os internos,
liderados pelo Coringa, fazem apenas uma demanda: Batman deve se juntar a eles.
O denso teor psicológico que se segue é impressionante. Tanto a narrativa
quanto as imagens, estas últimas as mais belas que já vi em uma história do
Batman, evocam uma sensação de surrealismo sufocante, como se o leitor
estivesse preso junto ao protagonista em um pesadelo.
A representação dos clássicos inimigos do
Homem-Morcego também é única e perturbadora. Somos apresentados a um Coringa
que é a própria personificação da loucura, um Cara-de-Barro decrépito e
pestilento, um Chapeleiro Maluco pedófilo... Talvez uma das mais marcantes
representações seja a do Duas-Caras, que após passar por diversas terapias com
o objetivo de fazê-lo tomar decisões sem depender de sua moeda, acabou se
tornando claramente decadente e até digno de pena, incapaz de tomar decisões
por mais primitivas que fossem.
Ao passo em que acompanhamos a jornada do
Cavaleiro das Trevas, vemos também trechos da história do falecido fundador do
asilo, Amadeus Arkham, desde o que o motivou a seguir caminho na área de
psicologia até os traumáticos eventos que mudaram sua vida. Com o desenrolar do
enredo, podemos perceber como esses dois focos diferentes na história acabam
convergindo para um mesmo ponto.
Ao fim da história, a questão que o Coringa
queria provar ainda paira no ar: será que o Batman é mesmo tão diferente dos
vilões que ele mesmo encarcera no asilo? O quão tênue é essa linha entre a
razão e a insanidade? É algo que até mesmo o Batman se pergunta:
“Às vezes eu... Questiono a racionalidade de
minhas ações. E tenho medo de que quando eu passar por aqueles portões do asilo...
quando eu entrar no Arkham e as portas se fecharem atrás de mim... Será como
voltar para casa.”
- Laís
Eu pretendia citar esse trecho de Alice na minha crítica de "O Cavaleiro das Trevas"! Haha
ResponderExcluirMuito bacana a crítica, bem escrita e objetiva. Adorei!
ResponderExcluirEssa história é tão marcante, inovadora (por que, não?) e vanguardista - Morrison bebeu muito peyote - que muita gente que nunca quis ler um quadrinho de super heroi mensal, buscou ler e se lambusou no " melado" do escocês esotérico. Parabéns por nos brindar com essa resenha, Laí, esse é um dos trabalhos da nona arte que devem ser revisitados inúmeras e vezes por diversos leitores, sempre!
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