22.1.12

Wes Craven prova com "Pânico 4" que ainda é um mestre do terror!

SCRE4M

Depois de lançar um slasher genérico em 3D apenas pra se atualizar e fazer uma graninha extra, Wes Craven traz de volta sua franquia de maior sucesso nos anos 90: "Pânico" (Scream). Iniciada em 1996, a série "Pânico" usa metalinguagem se embasando em clássicos filmes de terror e seus clichês. O filme aponta o clichê, critica e então o aplica. É uma bela forma do já consagrado mestre do terror Wes Craven e seu parceiro Kevin Williamson homenagearem os assustadores filmes que a maioria dos cinéfilos ama. O mais curioso é que "Pânico" acaba não falando apenas do terror, mas do cinema em geral, tornando a saga um item indispensável para qualquer fã da sétima arte. Onze anos se passaram desde o fraco "Pânico 3" (Scream 3, 2000), é uma nova década - e há novas regras para os filmes de terror.

Sidney Prescott (Neve Campbell), após tanto tempo distante, resolve retornar à cidade de Woodsboro para promover seu livro de auto-ajuda no dia do aniversário dos eventos que deram origem à franquia "Stab", baseada no best-seller de Gale Weathers (Courteney Cox), que se estabelece em seu sétimo filme. Com o retorno de Sidney, alguém não se segura e assume a fantasia do ícone Ghostface, iniciando uma nova onda de assassinatos que acabarão, como sempre, sendo ligados à imortalizada protagonista.

O trio protagonista está de volta e mais forte, Neve Campbell aparece mais madura e com melhor atuação depois de tantas experiências, Courteney Cox segue com a personalidade forte de Gale (ainda que o aumento labial recente da atriz pareça estranho em algumas cenas) e David Arquette está mais carismático do que nunca no papel do atrapalhado Dewey, agora xerife de Woodsboro. Novos nomes no elenco também chamam a atenção, e devo observar que os coadjunvantes deste quarto "Pânico" apresentam atuações melhores do que os de qualquer outra sequência da série.

Ainda que não partilhe do carisma dos três principais e da divertida Hayden Panettiere, que é de longe a mais carismática dos novos nomes, Emma Roberts faz uma boa apresentação da personagem Jill, prima de Sidney. Ao longo da reprodução, vai-se criando na cabeça do espectador a imagem da clichê garota comum que se vê no shopping nos dias de hoje sobre Jill, até o figurino da atriz reforça tal opinião. Rory Culkin e Erik Knudsen são outras duas boas adições ao novo elenco, especialmente Culkin. Ambos interpretam os dois cinéfilos da vez, e fazem parte do humor do filme na maioria de suas aparições.

O humor, por sua vez, é bastante presente. Entretanto, é balanceado devidamente. O filme consegue mostrar as piadas e o terror em perfeita sintonia, poucas vezes deixando que um intervenha no desempenho do outro. Há muitos sustos durante o filme, que também apresenta um clima até mesmo claustrofóbico em algumas partes, uma imagem de escassez de métodos para sobreviver. Sem mencionar que dos quatro filmes da série, este é certamente o mais sangrento de todos. Não há efeitos computadorizados muito usados em filmes atuais para simular sangue, os efeitos são todos práticos e muito bem utilizados, assim como a maquiagem impecável. O clímax da fita aponta bastante para a perseguição do novo Ghostface em relação às suas vítimas, e também ao desenvolvimento da nova temática da série, que não poderia ter sido escolhida de forma melhor: Remakes.

Cada filme da série, e cada assassino, trabalha em cima de uma temática específica em relação ao cinema. O primeiro se embasa em filmes de terror para apontar suas características e clichês. O segundo em suas sequências e o terceiro, em trilogias. Era de se esperar que o quarto fosse tratar do início de uma nova trilogia no cinema, afinal, o quarto filme costuma fazer isso. Porém, a temática foi escolhida de maneira ainda melhor que essa; o quarto longa fala sobre remakes. Justamente pelo motivo dos remakes terem praticamente dominado o mercado cinematográfico nos dias atuais. O filme pega o conceito das releituras, o usa e o desenvolve da forma apropriada para que ele próprio se pareça com um remake do primeiro filme e de seus acontecimentos, mas sem esquecer-se de que é uma sequência.

A trilha sonora original mantém a orquestra como foco, carregando ainda a identidade dos outros três filmes em termos de música e obviamente, da maioria dos filmes de terror. A fotografia é simples, mas é possível notar que os responsáveis da área usaram uma técnica que mantém a luz espalhada, em forma de destacar os outros espectros de cor presentes na mesma. Em algumas cenas, especialmente nas diúrnas, o efeito sai bonito, mas em outras acaba parecendo um pouco cansativo.

Roger Jackson faz um ótimo trabalho retornando como a icônica voz do assassino, e este, cujo nome não revelarei, representa de forma excelente seu personagem. Em cenas desprovidas da fantasia de Ghostface, o artista que o representa o faz de maneira digna no papel de alguém que esconde um segredo crucial. Provavelmente, é necessário ver o filme no mínimo duas vezes para reanalisar os "movimentos" do assassino enquanto este encobre sua identidade. Tendo eu já assistido ao filme cinco vezes, pude fazê-lo muito bem.

Wes Craven dirige o longa muito bem. Seus ângulos de câmera são variados, utilizando da simplicidade do já antigo cineasta e também de técnicas mais utilizadas atualmente, como posições inclinadas. A câmera em movimento também é notávelmente usada, e de bom modo. Há pouquíssimos momentos de slowmotion, que por sua vez também não é tão lento, e que por isso não deve render muitos comentários aqui.

Ao contrário do filme anterior, no qual mal lembrávamos da existência de Sidney, o foco entre os personagens é muito bem distribuído no quarto capítulo da saga. Sabemos tudo que precisamos sobre os protagonistas e os coadjunvantes. Quanto à Sidney, Gale e Dewey, seus status são atualizados rapida mas essencialmente, sem que atrapalhe no desenvolvimento dos personagens na "nova década". E os "novatos" são diretamente apresentados como devem ser: adolescentes da geração atual que buscaram, através de recursos do mundo de hoje, informação sobre o mundo passado e estabeleceram a linha de diferença.

Conclusão Final: "Pânico 4" (SCRE4M) reestabelece o padrão de qualidade da franquia e consegue alcançar o nível do primeiro e clássico filme. Há muitos sustos, humor balanceado, ótimas atuações e uma temática com a qual os fãs mais oldschool de filmes de terror vão se identificar muito bem. Recomendado!

Nota: 9,5

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