MILLENNIUM
OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES
OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES
Em algum lugar eu ouvi falar que a versão americana de "Os Homens que não Amavam as Mulheres" (The Girl with the Dragon Tattoo), primeiro capítulo da trilogia Millennium, dirigido por David Fincher, era um filme frio. Realmente, os pôsteres e os trailers do longa davam a entender de que se tratava de um filme frio, entretanto, quando assisti ao mesmo, discordei totalmente de tal classificação absurda. Se este filme é frio, eu mal consigo imaginar o que a versão sueca é.
O jornalista Mikael Blomkvist (Daniel Craig), após publicar um artigo difamador sem provas concretas de suas afirmações sobre o figurão Hans-Erik Wenneström (Ulf Friberg), acaba sendo quebrado financeiramente por um processo judicial, e precisa dar um jeito de rearranjar sua vida. Neste momento crucial, Henrik Vanger (Christopher Plummer), um empresário sueco famoso mas já aposentado, contrata Blomkvist para resolver o mistério da morte de sua neta, Harriet (Moa Garpendal). Para tal, Blomkvist recorre à ajuda da jovem hacker Lisbeth Salander (Rooney Mara), uma garota punk e de personalidade forte que se envolverá profundamente com seu parceiro.
Continuando de onde parei na introdução da crítica, este filme é muito mais sentimental do que o original em vários aspectos. E quando digo "sentimental", não me refiro apenas à amor. Também me refiro à ódio, identificação, humor. O leve humor presente na fita é aplicado muito bem, e o carisma de Daniel Craig e Rooney Mara, muito maior do que o de Michael Nyqvist e Noomi Rapace, contribuem bastante para isso. Não só para o humor, o carisma dos dois protagonista é fundamental (como costuma ser para qualquer personagem em qualquer mídia) para a aprovação do público em relação aos personagens.
Mikael Blomkvist e Lisbeth Salander rapidamente conquistam o seu público com sua, respectivamente, morbidez e rebeldia. A novata Rooney Mara prova que tem de tudo para se tornar uma grande estrela de Hollywood, encarnando de forma ao mesmo tempo perturbadora e cativante sua personagem. Quanto à Craig, todos já conhecemos bem o talento do ator britânico. Mesmo tendo Craig se tornado famoso por interpretar James Bond em "Cassino Royale" (Casino Royale, 2006) e "Quantum Of Solace" (Quantum Of Solace, 2008) e este Millennium ser um thriller investigativo, não se nota semelhança entre Blomkvist e Bond. Craig compõe o jornalista com sua própria característica, Blomkvist não é nenhum Sherlock Holmes, mas é perspicaz em suas investigações. Tem um modo simpático de conquistar quem está ao seu redor e um bom senso de humor, sem mencionar, claro, sua morbidez.
A química entre Craig e a novata é perfeita. Os dois personagens começam seus caminhos no filme separados, e a história é contada de forma paralelamente intercalada, mas quando se cruzam, a relação é impecável. Lisbeth é uma personagem que foi, ao longo de sua vida, discriminada radicalmente e criou um grande desdém pelos homens pertencentes à sociedade preconceituosa, e a degeneração de qualquer sentimento por estes tende apenas a aumentar. Porém, assim como o público, ela enxerga em Mikael um sujeito diferente dos outros, e é aí que a química começa a funcionar muito bem.
Craig e Mara não são os únicos destaques do elenco, o simpático Stellan Skarsgård faz uma ótima representação de Martin Vanger, e Yorick van Wageningen surge tão detestável quanto deve ser como o tutor de Lisbeth Salander. Os diálogos são outro ponto positivo do filme; a família Vanger se mostra tão incomum e anti-sociável quanto é descrita por Henrik. Discussões, provocações e conflitos verbais são constantes e essenciais para o desenvolvimento da química entre Mikael e os membros da família.
Apesar de ter estranhado no início, acabou sendo justa a classificação de 16 anos que Millennium recebeu por aqui. O filme não empurra ao espectador violência gratuita ou sexo e nudez, mas quando uma cena com tais conteúdos é necessária, nem o roteiro e nem a direção economizam. Créditos devem ser dados à Rooney Mara pela coragem da atriz em encarar cenas tão exigentes em um dos primeiros filmes de sua carreira, e pelo talento de atuar com naturalidade e perfeição nas mesmas.
O filme possui uma atmosfera muito mais sombria do que a criada no longa sueco, e algo que contribui muito para tal clima é a trilha sonora original de Trent Reznor e Atticus Ross. Os dois músicos já trabalharam com David Fincher antes em "A Rede Social" (The Social Network, 2010), filme pelo qual ganharam o Oscar de melhor trilha sonora, entretanto, em Millennium, o trabalho musical é muito mais requerido do que na fita sobre o Facebook. O acompanhamento da trilha consegue se encaixar no tom certo de cada cena em que aparece, é sombria quando tem que ser, é investigativa quando tem que ser, romântica quando tem que ser, etc. Em muitas cenas intensas, as composições de Reznor e Ross chegam a lembrar o trabalho de Akira Yamaoka para os jogos da série "Silent Hill".
David Fincher dirige o filme em excelente forma durante os 158 minutos de duração da projeção. Ângulos de filmagem fixos são bem colocados e no trabalho com a câmera movimentada, o cenário é muito bem retratado, além de cortes em que a câmera acompanha os movimentos do personagem em questão. A cena da perseguição de Lisbeth em sua moto é melhor filmada do que o esperado, sendo bem dividida em mudanças de tomada e desenvolvimento em apenas um take.
A fotografia procura trabalhar com tons mais descoloridos, dada a natureza sombria do longa. A luz é, em alguns momentos, manipulada para se espalhar lateralmente, técnica que fica bonita em muitas cenas, e muito melhor usada do que em "Pânico 4" (SCRE4M, 2011). Quanto à mixagem de som, outro aspecto técnico no qual o filme sueco apresentou vários erros, é muito boa neste filme. Os sons do ambiente ao redor, mesmo que calmo, são aplicados com precisão e principalmente entre as trocas de filmagens exteriores e interiores.
Quanto à fidelidade ao livro de Stieg Larsson, não posso comentar pois comecei a ler o mesmo recentemente, após ter assistido ao filme. Porém, considero que este detalhe não vá atrapalhar na boa experiência de conferir a fita.
Conclusão Final: De início, minha expectativa quanto à "Millennium: Os Homens que não Amavam as Mulheres" (The Girl with the Dragon Tattoo, 2011) era de que o filme fosse ser o tipo "ame-o ou odeie-o", mas acabei sendo surpreendido. Com personagens cativantes, elenco carismático, investigação intrigante e técnica impecável, o remake do filme sueco de 2009 consegue superar em todos os aspectos seu antecessor, e tem de tudo para receber aprovação quase total do público brasileiro. Recomendado!
Nota: 10,0
O jornalista Mikael Blomkvist (Daniel Craig), após publicar um artigo difamador sem provas concretas de suas afirmações sobre o figurão Hans-Erik Wenneström (Ulf Friberg), acaba sendo quebrado financeiramente por um processo judicial, e precisa dar um jeito de rearranjar sua vida. Neste momento crucial, Henrik Vanger (Christopher Plummer), um empresário sueco famoso mas já aposentado, contrata Blomkvist para resolver o mistério da morte de sua neta, Harriet (Moa Garpendal). Para tal, Blomkvist recorre à ajuda da jovem hacker Lisbeth Salander (Rooney Mara), uma garota punk e de personalidade forte que se envolverá profundamente com seu parceiro.
Continuando de onde parei na introdução da crítica, este filme é muito mais sentimental do que o original em vários aspectos. E quando digo "sentimental", não me refiro apenas à amor. Também me refiro à ódio, identificação, humor. O leve humor presente na fita é aplicado muito bem, e o carisma de Daniel Craig e Rooney Mara, muito maior do que o de Michael Nyqvist e Noomi Rapace, contribuem bastante para isso. Não só para o humor, o carisma dos dois protagonista é fundamental (como costuma ser para qualquer personagem em qualquer mídia) para a aprovação do público em relação aos personagens.
Mikael Blomkvist e Lisbeth Salander rapidamente conquistam o seu público com sua, respectivamente, morbidez e rebeldia. A novata Rooney Mara prova que tem de tudo para se tornar uma grande estrela de Hollywood, encarnando de forma ao mesmo tempo perturbadora e cativante sua personagem. Quanto à Craig, todos já conhecemos bem o talento do ator britânico. Mesmo tendo Craig se tornado famoso por interpretar James Bond em "Cassino Royale" (Casino Royale, 2006) e "Quantum Of Solace" (Quantum Of Solace, 2008) e este Millennium ser um thriller investigativo, não se nota semelhança entre Blomkvist e Bond. Craig compõe o jornalista com sua própria característica, Blomkvist não é nenhum Sherlock Holmes, mas é perspicaz em suas investigações. Tem um modo simpático de conquistar quem está ao seu redor e um bom senso de humor, sem mencionar, claro, sua morbidez.
A química entre Craig e a novata é perfeita. Os dois personagens começam seus caminhos no filme separados, e a história é contada de forma paralelamente intercalada, mas quando se cruzam, a relação é impecável. Lisbeth é uma personagem que foi, ao longo de sua vida, discriminada radicalmente e criou um grande desdém pelos homens pertencentes à sociedade preconceituosa, e a degeneração de qualquer sentimento por estes tende apenas a aumentar. Porém, assim como o público, ela enxerga em Mikael um sujeito diferente dos outros, e é aí que a química começa a funcionar muito bem.
Craig e Mara não são os únicos destaques do elenco, o simpático Stellan Skarsgård faz uma ótima representação de Martin Vanger, e Yorick van Wageningen surge tão detestável quanto deve ser como o tutor de Lisbeth Salander. Os diálogos são outro ponto positivo do filme; a família Vanger se mostra tão incomum e anti-sociável quanto é descrita por Henrik. Discussões, provocações e conflitos verbais são constantes e essenciais para o desenvolvimento da química entre Mikael e os membros da família.
Apesar de ter estranhado no início, acabou sendo justa a classificação de 16 anos que Millennium recebeu por aqui. O filme não empurra ao espectador violência gratuita ou sexo e nudez, mas quando uma cena com tais conteúdos é necessária, nem o roteiro e nem a direção economizam. Créditos devem ser dados à Rooney Mara pela coragem da atriz em encarar cenas tão exigentes em um dos primeiros filmes de sua carreira, e pelo talento de atuar com naturalidade e perfeição nas mesmas.
O filme possui uma atmosfera muito mais sombria do que a criada no longa sueco, e algo que contribui muito para tal clima é a trilha sonora original de Trent Reznor e Atticus Ross. Os dois músicos já trabalharam com David Fincher antes em "A Rede Social" (The Social Network, 2010), filme pelo qual ganharam o Oscar de melhor trilha sonora, entretanto, em Millennium, o trabalho musical é muito mais requerido do que na fita sobre o Facebook. O acompanhamento da trilha consegue se encaixar no tom certo de cada cena em que aparece, é sombria quando tem que ser, é investigativa quando tem que ser, romântica quando tem que ser, etc. Em muitas cenas intensas, as composições de Reznor e Ross chegam a lembrar o trabalho de Akira Yamaoka para os jogos da série "Silent Hill".
David Fincher dirige o filme em excelente forma durante os 158 minutos de duração da projeção. Ângulos de filmagem fixos são bem colocados e no trabalho com a câmera movimentada, o cenário é muito bem retratado, além de cortes em que a câmera acompanha os movimentos do personagem em questão. A cena da perseguição de Lisbeth em sua moto é melhor filmada do que o esperado, sendo bem dividida em mudanças de tomada e desenvolvimento em apenas um take.
A fotografia procura trabalhar com tons mais descoloridos, dada a natureza sombria do longa. A luz é, em alguns momentos, manipulada para se espalhar lateralmente, técnica que fica bonita em muitas cenas, e muito melhor usada do que em "Pânico 4" (SCRE4M, 2011). Quanto à mixagem de som, outro aspecto técnico no qual o filme sueco apresentou vários erros, é muito boa neste filme. Os sons do ambiente ao redor, mesmo que calmo, são aplicados com precisão e principalmente entre as trocas de filmagens exteriores e interiores.
Quanto à fidelidade ao livro de Stieg Larsson, não posso comentar pois comecei a ler o mesmo recentemente, após ter assistido ao filme. Porém, considero que este detalhe não vá atrapalhar na boa experiência de conferir a fita.
Conclusão Final: De início, minha expectativa quanto à "Millennium: Os Homens que não Amavam as Mulheres" (The Girl with the Dragon Tattoo, 2011) era de que o filme fosse ser o tipo "ame-o ou odeie-o", mas acabei sendo surpreendido. Com personagens cativantes, elenco carismático, investigação intrigante e técnica impecável, o remake do filme sueco de 2009 consegue superar em todos os aspectos seu antecessor, e tem de tudo para receber aprovação quase total do público brasileiro. Recomendado!
Nota: 10,0
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