18.1.12

Menos ação e mais atuação no segundo volume de "Kill Bill"

KILL BILL
vol. 2

Depois do excelente primeiro filme da saga da Noiva, Quentin Tarantino conclui a vingança com um segundo filme à altura do primeiro. E, como prometido, aqui está minha crítica do volume dois.
Como feito na crítica anterior, irei dividir esta em tópicos, começando pelos personagens. Mas, antes, vamos falar sobre a história.

Após ser executada por Bill (David Carradine) a sangue frio durante seu ensaio de casamento, A Noiva entrou em um profundo coma de quatro anos. Ao acordar, saiu em uma sangrenta jornada em busca de vingança. Seus primeiros alvos foram Vernita Green (Vivica A. Fox) e O-Ren Ishii (Lucy Liu), membros do grupo de assassinos de elite liderados por Bill. Os restantes são Budd (Michael Madsen), Elle Driver (Daryl Hannah) e por fim, Bill.

O segundo volume é mais focado na relação da Noiva com Bill e no passado da mesma. A ação continua muitíssimo bem trabalhada, entretanto, o foco é o drama.

OS PERSONAGENS


BEATRIX KIDDO / A NOIVA / MAMBA NEGRA

O último "Kill Bill" exige muito mais da atuação de Uma Thurman que o anterior. Além de também exigir muito de suas habilidades físicas e de seu conhecimento em artes marciais, o volume dois também requer mais dos talentos dramáticos da atriz. A Noiva, agora com seu nome revelado, permanece séria, vingativa e centrada, mas se encontra com situações muito mais complicadas e perigosas agora. Suas habilidades não são o suficiente para passar por seus novos adversários, ela também tem de usar muito de sua determinação e sua fortificação psicológica.
O filme nos mostra mais do passado de Beatrix, enfasando ainda mais como sua personalidade era previamente e o quanto ela evoluiu. Podemos ver o árduo e rigoroso treino pelo qual Beatrix passou com o mestre Pai Mei (Chia Hui Liu), que não apenas lhe concedeu habilidades mortais e fortaleceu seu corpo, mas principalmente a sua mente. No último capítulo do volume 2, Beatrix tem que enfrentar seu passado com a verdade, e Uma Thurman entrega sua melhor atuação na franquia de Tarantino. A química de Thurman com David Carradine é perfeita, os dois carismáticos atores colocam seus personagens em conflito em todos os momentos, estando quase sempre em descordância. Apesar de mostrarem paz fisicamente um com o outro, Beatrix e Bill estão em uma constante guerra verbal e sentimental.


PAI MEI

Não há como falar dos personagens de "Kill Bill" sem falar de Pai Mei, o rigoroso, poderoso, engraçado e carismático mestre de Beatrix Kiddo.
Pai Mei, interpretado por Chia Hui Liu (que também fez um dos capangas de O-Ren Ishii no volume 1), é retratado como a imagem pefeita de um mestre perfeito de Kung Fu. Aquele típico e clichê velho irritado, de barba branca e comprida, e extremamente competente em seus estilos de combate. Não poderia faltar um personagem desta natureza em um filme que homenageia as obras de Kung Fu.
Além de rigoroso, habilidoso e exigente, Pai Mei é totalmente seguro de suas habilidades. Tem prevenção perfeita dos golpes que virão e sabe como contra-atacá-los desde antes do combate começar, pelo simples fato de conhecer o tipo de oponente que enfrenta. Ele provoca a ira em sua pupila para que assim possa ensiná-la a controlar tal sentimento antes de qualquer outra coisa, e a mostra o valor da determinação e da força.
Pai Mei não aparece muito no longa, mas nas poucas cenas em que aparece, consegue ser marcante e conquistar o público com um carisma extraordinário do ator que o representa.


BUDD

Interpretado pelo competente Michael Madsen, Budd é o irmão caçula de Bill. Mas, em pouco os dois se assemelham. Budd é beberrão, preguiçoso e caipiria, Madsen consegue encarnar essa imagem muito bem. Seu sotaque, voz rouca, cabelos longos e físico contribuem muito para isso, além dos dotes atuativos do ator. Falta-lhe o carisma de David Carradine, pois Budd é um personagem que exige muito mais carisma do que Elle e Vernita, mas este não é um grande problema.
A relação entre Budd e Beatrix é pouco explorada, mas o suficiente para sabermos que o ex-assassino tem um certo desejo de vingança pela Noiva ter magoado seu irmão, Bill.
Já a relação entre os dois irmãos fica um pouco mais evidente, sendo dito que algo ocorreu no passado que os separou, mas Carradine se encarrega de mostrar que Bill ainda ama o irmão.
É mostrada também certa relação de Budd com Elle, apesar dos personagens não serem tão ligados. A conexão deles é puramente profissional e séria, sendo um interesseiro e a outra, traiçoeira.



ELLE DRIVER

Elle Driver é a principal rival de Beatrix Kiddo. As duas assassinas compartilham um notável respeito de guerreira para guerreira, e a química de rivalidade que se desenvolve entre Daryl Hannah e Uma Thurman contribui muito para que fique evidente a relação entre as duas loiras.
Daryl Hannah interpreta a sedutora e traiçoeira Elle de modo digno, apesar de exagerar na pressão entre os lábios. É uma personagem manipuladora que mente para quem for preciso visando alcançar o lucro próprio. O fato de Beatrix também ter sido treinada por Pai Mei realça ainda mais a rivalidade entre as duas. O típico "A pupila número um, e a que seguiu o caminho errado".
Hannah tem o carisma exatamente oposto ao de Uma Thurman, e o ideal para sua personagem. A atriz interpreta Elle de forma a nos fazer pensar "Cara, que vadia", e também deixa evidente que cada personagem afetado pela assassina caolha deve ter o mesmo pensamento sobre tal.




BILL

Por fim, o grande alvo: Bill.
Bill é mostrado como um homem culto, charmoso, calmo e absolutamente equilibrado. Interpretado por David Carradine, que usa o máximo de seu inigualável carisma até no tom de voz para compor o personagem, Bill é um assassino perfeito. Bem treinado, seguro de sua opinião e de suas decisões. Nos é apresentado o personagem tanto antes do massacre em El Paso quanto depois, e vemos o quão pouco Bill mudou. Sua única mudança aparente é um pouco de arrependimento, mas o personagem continua em seu equilíbrio emocional.
Como já relatei previamente, a química entre Carradine e Thurman é perfeita. Desenvolvida desde o passado da Noiva até o momento do confronto, ela só tende a evoluir. Como em todo filme deve ser, a protagonista e o vilão são os grandes pontos fortes. Uma Thurman e David Carradine entregam sem dúvidas as duas melhores atuação do elenco de "Kill Bill". O confronto dos personagens é desprovido de muita ação desnecessária, apenas é mostrado o que tem de ser mostrado, e tendo isso em vista, nos é mostrado o quanto Beatrix e Bill são habilidosos com suas espadas.

Tarantino continua com uma direção impecável no volume 2, e utiliza ângulos de câmera tão bem pensados quanto os do anterior. Reflexos e buracos são bastante usados para enfocar o personagem necessário. Truques para simular algumas cenas que obviamente não poderiam ser filmadas em uma tomada também são usados, e nas poucas cenas de ação, a exploração do cenário e a movimentação da câmera são bem trabalhadas. Talvez não melhor do que no filme anterior, mas ainda sim, bem trabalhadas.

Novamente, o roteiro é dividido entre capítulos, começando aonde o primeiro terminou, e tal fórmula volta a funcionar muito bem. Os capítulos do volume 2 são maiores do que os do 1, e acabam ficando menos evidentes. Tarantino mantém o período intercalado, colocando acontecimentos prévios no meio da história, para que fique melhor explicado o porquê de tal coisa, e etc.

A ação está muito menos presente neste "Kill Bill". Cenas de luta são muito bem coreografadas e aplicadas, principalmente no curto último combate entre Beatrix e Bill, mas o foco neste filme é o drama e a relação entre os personagens. Uma Thurman chora, se alegra, perde as esperanças, em diversas partes do filme. As emoções dos personagens são muito mais exploradas do que no volume 1.

A trilha sonora é ótima, contendo até mesmo Ennio Morricone e sua "A Silhouette of Doom", mas o filme é notavelmente muito menos marcante do que o primeiro neste quesito, e este é o único ponto negativo de "Kill Bill: Volume 2".

A direção de arte e fotografia continua exímia, sendo usado um perfeito controle de luzes e sombras. Nas cenas do treinamento com Pai Mei, tais técnicas se fazem notar, com uma bonita e simbólica sequência em que vemos as silhuetas de Beatrix e Pai Mei treinando em frente a um fundo vermelho.

Conclusão Final: Meramente inferior ao seu antecessor, "Kill Bill: Volume 2"(Kill Bill: Vol. 2, 2004) é a conclusão perfeita para a saga da Noiva, criada por Quentin Tarantino. Com uma excelente demonstração de superação, ótimos personagens, relações bem exploradas e uma conclusão vingativa digna de aplausos, a franquia "Kill Bill" é indispensável para todos os fãs de cinema.

Nota: 9,9

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