23.12.11

"Batman: Ano Um", de Frank Miller, é uma obra-prima obrigatória aos fãs do Cruzado de Capa

BATMAN
ANO UM
Aviso: A crítica a seguir pode conter spoilers.

Frank Miller pode ser chamado de um dos escritores dos quadrinhos para o cinema atualmente. Miller criou elogiadas HQ's e graphic novels, e suas obras de maior sucesso acabaram indo para as telas do cinema, onde as histórias também se deram muito bem. São estas "Sin City", "300", entre outras. O Homem-Morcego também acabou passando por isso, tendo sido "Batman: Ano Um" a principal fonte de inspiração para "Batman Begins"(Batman Begins, 2006), e ao que tudo indica, "Batman: O Cavaleiro das Trevas", também de Miller, contribuiu para o roteiro do vindouro "Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge"(The Dark Knight Rises, 2012).
Em 1986, a DC Comics classificou seus personagens já como datados. Eles queriam uma reforma maciça, e a intenção era iniciar com seus três personagens principais: Superman, Mulher-Maravilha e o Batman. Entretanto, o Homem-Morcego já tinha uma perfeita história de origem escrita quando Bob Kane e Bill Finger criaram o personagem em 1939. Tal origem definia o Batman unicamente, explicava como Bruce Wayne veio a se tornar o que é, porque ele tomou tal decisão, como ele impunha medo sobre o submundo da fictícia cidade de Gotham City, enfim, tudo era perfeito. Diante desse fato, a DC decidiu que a origem do Batman não seria alterada. Ela deveria ser apenas complementada, refinada. Era perfeitamente possível se aprofundar mais no personagem e dar-lhe um contexto mais amplo e complexo, apresentando também novas técnicas de arte e coloração. Mas, quem faria isso?
O aclamado Frank Miller se voluntariou para fazer o serviço. A DC aceitou-o sem hesitação, já que Miller já havia provado sua capacidade com "Batman: O Cavaleiro das Trevas", que mostra um Bruce Wayne já velho voltando para a ativa. Miller vinha sendo reconhecido como um dos melhores escritores/quadrinistas desde os anos 60, e até hoje, alguns o consideram o melhor da história. Na mesma época, David Mazzucchelli ascendia em sua carreira de artista de quadrinhos. Mazzucchelli tinha poucos trabalhos no mercado, mas ainda sim, tornou-se famoso rapidamente como um extraordinário talento da nona arte. Como Miller optou por se ocupar apenas como escritor, Mazzucchelli se encarregou da arte de "Batman: Ano Um".
Como o Batman nasceu? Por que ele é o que é? O foco de Ano Um é exatamente esse: A origem do lendário vigilante. Não há vilões principais aqui, não há um antagonista com quem Batman deva dividir o foco recebido por Frank Miller em seu roteiro. Os dois personagens chave de "Ano Um" são Batman e James Gordon. Enquanto o bilionário Bruce Wayne está retornando à Gotham City após uma longa viagem pelo mundo, o tenente James W. Gordon acaba de ser transferido para a unidade policial da cidade. Miller divide a narração principal entre os dois personagens, certa hora é Wayne quem narra, em outra parte é Gordon. Assim, podemos ver do ponto de vista de ambos os personagens desde quando chegam em caminhos completamente separados até finalmente esses caminhos se encontrarem e seguirem relativamente juntos. O que Bruce Wayne está pensando de Jim Gordon? O que Gordon pensa de Wayne? Qual a opinião de cada um dos dois sobre o que vem acontecendo em Gotham? As diferenças e semelhanças de opiniões dos personagens são bem retratadas.
Gotham City é descrita como uma cidade altamente corrupta, de modo a se assemelhar com a adaptação "Batman Begins". Policiais corruptos, famílias mafiosas que controlam a cidade, tudo isso descreve a cidade de Gotham. No meio desse caos, existem três homens honestos: Wayne, Gordon e Harvey Dent. Enquanto Wayne treina e se prepara para sua estreia no combate ao crime, Gordon procura entender como funciona o corrompido departamento policial da cidade. Entre suas maiores conexões estão o comissário Loeb, o igualmente corrupto Flass, e sua parceira; Essen. A relação entre Gordon e Essen vai se tornando mais ousada conforme as páginas são viradas, e em muitas vezes o bom tenente se vê tendo que tomar complicadas decisões. Dent é pouco enfasado, entretanto é mostrado como um dos poucos políticos honestos de Gotham, chegando até a ajudar o Batman em curtas cenas. Quem já conhece melhor o personagem sabe que tal ato vem da forte ligação de Dent com a justiça; isto é, antes dele se tornar o criminoso conhecido como Duas-Caras.
O preparamento de Bruce Wayne não se limita apenas à esmurrar tábuas e quebrar árvores aos chutes, para se tornar um vigilante, Wayne precisa saber como se infiltrar no submundo e se adaptar ao ambiente criminoso de sua cidade. Esse ponto é bem retratado, já que Wayne precisa ter plena certeza de que está pronto antes de sair chutando bundas de criminosos. Nos é apresentada também Selina Kyle, uma dominatrix da Zona Leste de Gotham cujo caminho acaba se cruzando com o de Wayne. Através de suas falas, ações e expressões ilustradas, Miller e Mazzucchelli nos dizem claramente que Selina é alguém com um passado ruim, uma vida monótona e que odeia o seu trabalho. Tudo de que ela precisa é um pouco mais de adrenalina.
Apesar de ter tudo o que precisa; Dinheiro, treinamento, equipamento e motivação, Bruce Wayne ainda não se sente preparado. Não se sente completo, alguma coisa essencial está faltando para seu plano funcionar. O que é? O símbolo. O ícone. Bruce precisa ser algo misterioso, precisa fazer com que seus investigadores quebrem a cabeça para descobrir quem ou o que ele é. Precisa implicar medo em seus inimigos. Para tal, Wayne usa de seu maior medo para cobrir seu rosto: Morcegos. E assim nasce o Batman.
A história penetra bem na personalidade de Bruce Wayne uma vez que este assume a identidade de Batman, entendemos sua metodologia de combate ao crime, sua filosofia, suas regras e seus sentimentos. Desde a criação do personagem isso vem sido nos mostrado, e Frank Miller prova mais uma vez ter entendido completamente o Cavaleiro das Trevas nessa revisão de sua origem. Assim como suas regras, são destacadas as consequência dessas regras. Todos sabem, basicamente, que Batman é um vigilante noturno - tanto por sua disponibilidade quanto por sua simbologia, afinal morcegos são animais noturnos. Mas e se for necessário uma atuação à luz do dia? A graphic novel nos explica bem como o morcego lida com suas regras.
Como o título diz, a linha de tempo retratada é o primeiro ano do Batman em Gotham City. Então, ao longo da obra são mostradas datas chave para sabermos nos localizar no tempo da história. E com o tempo, os personagens evoluem. Jim Gordon deixa de ser um novato entre a corrupção, e com a ascendente fama do Homem-Morcego, Selina Kyle toma sua ação e se torna a ladra futuramente conhecida como Mulher-Gato. Em toda história de Batman, a Mulher-Gato é um personagem essencial. Ela não é uma vilã e nem uma heroína, "Ano Um" deixa isso bem claro. Sua relação com Batman não é abordada com mais profundidade nesta obra por este ser apenas o primeiro ano do vigilante, Batman e Mulher-Gato mal se conhecem ainda, mas já parecem ter seus caminhos fadados a se cruzar. Não posso esquecer de comentar sobre Alfred, o fiel mordomo de Wayne. Apesar de não ter tanto destaque, Alfred não deixa de ser ilustrado como não um cúmplice ou parceiro, mas um amigo, que jamais deixaria seu Patrão Bruce na mão.
A arte de David Mazzucchelli é simples, mas surpreendentemente fascinante. O modo como o artista consegue ilustrar expressões e ações com traços tão simples torna seu desenho algo muito bonito. Eu, particularmente, gosto muito mais da arte de "Ano Um" do que de muitas artes de quadrinhos atuais do Homem-Morcego. A coloração de Richmond Lewis contribui para a beleza dos desenhos, utilizando excelentes variações de cores e preenchimento de cenário colorido, dando um tom até cinematográfico para os quadros em muitos pontos.
Com o fim do "Ano Um", você, leitor, poderá perceber o quanto os personagens evoluíram e o quanto as coisas mudaram desde o início da história. Alianças sendo formadas, ameaças surgindo. E é deixado bem claro que Gotham City não será a mesma de antes agora que Batman surgiu. O final desta história sólida de origem é o suficiente para sabermos o quanto a presença de um combatente do crime noturno que se veste de morcego vai influenciar a cidade, tanto em seus medos quanto em suas novas mentes criminosas... Como diz John Spartan em "O Demolidor"(Demolition Man, 1993): "Envie um maníaco para capturar um maníaco".
Conclusão Final: "Batman: Ano Um" é uma obra de arte perfeita que todos os fãs do Batman devem ler. Com sua história fixa, personagens bem construídos e carismáticos, arte impecável e narração bem dividida, "Ano Um" prova o quanto uma mente genial pode dar certo unida à um talento ascendente. Acaba que o trio Miller, Mazzucchelli e Lewis entrega uma perfeita revisão da origem de um dos mais completos e complexos personagens da nona arte! Recomendado!

Nota: 10,0

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