1.7.12

Begins.

" Se você faz de você mesmo mais do que apenas um homem... Se devota-se a um ideal, então você se torna outra coisa inteiramente. Uma lenda, senhor Wayne. Uma lenda ! "

EL AMANTE FELINO apresenta
BATMAN BEGINS


SPOILER ALERT! SPOILER ALERT!


"Batman Begins"  explora um ponto jamais enfasado na franquia anterior do Homem-Morcego: sua origem. Após ter assistido ao assassinato à sangue frio de seus pais em um beco da corrupta Gotham City, Bruce Wayne (Christian Bale) começa uma viagem pelo mundo para entender a mente dos criminosos. Uma vez preso, conhece Henri Ducard (Liam Neeson), representante de Ra's Al Ghul (Ken Watanabe), cabeça de uma organização justiceira chamada "A Liga das Sombras". Com Ducard, Wayne aprende a controlar seu medo e recebe um treinamento mortal, visando voltar para Gotham e lutar contra o crime através de um símbolo que jamais deverá ser esquecido: O Batman.

Por mais que o visionário diretor Christopher Nolan tenha trago o realismo para os filmes do Batman, sua franquia é notavelmente mais filósofica do que os dois ótimos filmes dirigidos por Tim Burton, em 1989 e 1992. Nolan realça valores que muitos cineastas contemporâneos parecem ter esquecido, como a temática e a forma de sua exploração. "Batman Begins" é um filme sobre o medo, pois é esta a essência do Cavaleiro das Trevas; ele usa seu maior medo em seu favor. Para explorar esse tema, são usadas utilidades clássicas de Batman e que já vimos muito nos filmes de Burton: a teatralidade e a ilusão.

A direção de Christopher Nolan se guia exatamente nisso; ao mesmo tempo que o cineasta conduz o filme de uma forma progressiva e relativamente calma, ou parada, suas cenas de ação são providas de bastante movimento e cortes rápidos de tomada, feitos exatamente com a intenção de confundir o espectador, de mostrar a perspectiva do inimigo sobre o Batman, mantendo em evidência o fator lúdico do longa. A fotografia obscura, que dá mais atenção à cores como o marrom e o beje, e o controle de sombras meticuloso, favorecem isso também.

A trilha sonora do gênio Hans Zimmer, com ajuda de James Newton-Howard, também é embasada nesses fatores, até mesmo nos nomes teatrais que as composições receberam (Myotis, Tadarida e Molossus, por exemplo). O tema de abertura da fita, Vespertilio, usufrui de instrumentos de percussão e outros, usados em função de criar a impressão de que há uma capa, ou um tecido pesado, sendo batido. Se você pegar um kimono de Karate e bater o tecido no ar, gerará um som semelhante ao tema de abertura de "Batman Begins".

Por outro lado, a trilha sonora também tem uma essência bastante tática, investigativa, que me remeteu diretamente ao fundo musical do jogo "The Adventures of Batman & Robin", para o console Mega Drive. Isso acabou fazendo da trilha um pouco nostálgica para mim. A mixagem de som tem momentos estranhos (como quando Flass bate a porta do carro de Falcone e sai um barulho semelhante ao de um soco, ou quando Bruce apanha para os homens de Falcone no bar), mas no geral, é bem trabalhada.

As atuações são ótimas. Christian Bale conseguiu se consolidar como o Batman definitivo nos cinemas, e afirmo que nenhum outro ator vai chegar à semelhança do Cruzado de Capa que Bale chegou. Christian Bale é o Batman, tanto quanto Christopher Reeves é o Superman. Os personagens aqui são melhor trabalhados do que no filme de Burton, devo dizer. Katie Holmes faz bem seu trabalho como a promotora e velha amiga de Bruce, Rachel Dawes, mas o carisma da atriz não parece ser o suficiente para conquistar o público. Michael Caine inspira e faz rir com seu perfeito Alfred, e Liam Neeson e Gary Oldman se destacam com sua química com Christian Bale. Enquanto Neeson compartilha com Bale a perfeita relação entre mestre e aprendiz, Oldman, que interpreta o sargento Gordon, tem com o protagonista uma conexão recém-nascida de parceria.

No "Batman" original, Bruce Wayne era só um cara rico que saía com pessoas ricas, e o comissário Gordon apenas um tira comum que não trabalhava diretamente com o Batman. No longa de Nolan, a família Wayne é extremamente importante para Gotham City, tendo construído o trem central como um sistema de transporte público fácil, rápido e barato ligado à Torre Wayne, e tendo também combatido radicalmente a pobreza da cidade, tornando assim irônico o fato de Thomas e Martha Wayne, pais de Bruce, terem sido assassinados por um bandido vagabundo qualquer, o tipo de pessoa que a família bilionária lutava para salvar.

A caracterização da cidade fictícia de Gotham reflete perfeitamente a pobreza da qual se fala durante todo o filme, e isso automaticamente nos conecta à corrupção dos policiais, juízes, etc. Entre esse meio, o sargento James Gordon se destaca como o único tira absolutamente honesto da cidade, não sendo apens um policial comum que aparece de vez em quando como nos filmes de Burton. Assim como na graphic novel "Batman: Ano Um", na qual este filme se baseia, os trabalhos de Bruce Wayne como vigilante e os de Jim Gordon como policial são mostrados paralelamente pelo roteiro de Jonathan Nolan (irmão de Christopher), até que seus caminhos se cruzem.

Os vilões também tem lá sua conspiração, estando o mafioso Carmine Falcone (Tom Wilkinson, ótimo) conectado com o psiquiatra Jonathan Crane (Cillian Murphy), vulgo Espantalho, que está conectado com Ra's Al Ghul - de um mafioso poderoso, a árvore do crime em Gotham se estende até o líder de uma organização radicalmente justiceira. O vilão Espantalho, apesar de mero coadjunvante, é um dos principais personagens para desenvolver as temáticas do filme, afinal sua principal arma é um gás alucinógeno que induz pânico - a ilusão sendo usada em função do medo. Quanto à Cillian Murphy; o ator faz um excelente trabalho no papel do psiquiatra obcecado.

Típico de Christopher Nolan, "Batman Begins" é um filme que te faz pensar, mesmo sendo relativamente simples, se comparado à complexidade dos outros filmes do diretor. Enquanto em "O Grande Truque" (The Prestige, 2006) e "A Origem" (Inception, 2010) você precisa pensar mais pra entender a história e a técnica do filme, neste você tem que entender sua filosofia. E se feito certo, você verá o quanto este filme, ou melhor, esta franquia, é inspiradora e pode mudar a vida de alguém através do simples, mas grande, poder da ideia. Intrigante, inspirador, emocionante e nostálgico para os fãs do Morcego (a cena final em que Gordon mostra a carta do Coringa para o Batman ainda me arrepia), "Batman Begins" marca o início da lenda do Cavaleiro das Trevas, e não há outra nota que eu possa dar para esse filme - nem outro filme que me dê mais prazer em dar tal nota.

Nota: 10,0

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