Não importa o que você diga, ou qual argumento use, se você não gosta deste filme aqui, você não é fã do Batman.
GABRIEL A. PEREIRA apresenta
BATMAN
SPOILER ALERT! SPOILER ALERT!
Em 1989, Tim Burton trouxe para as telas do cinema a sua visão do lendário herói de Gotham City. Na época, muitos duvidavam da produção, houveram até petições e cartas para a Warner Bros. para que Michael Keaton fosse chutado pra fora do elenco. Quando todo mundo pensava que o filme iria seguir a risca satírica do seriado de 1960, Burton apresentou uma versão quase mais sombria do que o Batman popularmente conhecido pelas histórias em quadrinhos da época. Tim Burton redefiniu a lenda, para sempre, e você pode apostar que sem esse filme, o Batman contemporâneo não seria o mesmo.
Michael Keaton foi uma grande (e agradável) surpresa. Mesmo vindo a ser superado por Christian Bale anos depois, Keaton encarnou o Homem-Morcego de maneira sublime e marcante. Se Bale tem sua voz como marca registrada em seu Cruzado de Capa, Keaton tinha o seu olhar. Realçados pela maquiagem preta usada ao redor dos olhos e pela excelente manipulação de luz e sombras do filme, os olhos verdes de Keaton destacavam-se na escuridão em que seu Batman se cobria, e sua postura; ereto, com a capa cobrindo-lhe os ombros e caindo até seus pés, faziam da caracterização do ator um vislumbre do próprio Cavaleiro das Trevas.
Normalmente, eu diria que o fato do Coringa ter sido o assassino dos pais de Bruce Wayne neste filme é descartável e inútil, mas acontece que Keaton faz bom uso desse fato no desenvolvimento de seu personagem. É quando Bruce descobre sua relação passada com o Coringa que vemos no Batman sua expressão habitual das HQs, e ao mesmo tempo, vemos uma mudança mais radical (e ousada) no personagem. Todos sabemos que nos quadrinhos, Batman não mata, é sua única regra, mas também não é novidade que o Batman de Tim Burton é muito criticado justamente por matar.
Devo retrucar estas críticas, já que esse foi um aspecto bem utilizado por Burton para retratar o psicológico do Morcego. Batman começa a matar apenas a partir do momento em que descobre que seus pais foram mortos pelo Coringa, fazendo com que seu desejo de vingança pelo submundo de Gotham se intensifique e se canalize em um homem em específico: O Príncipe Palhaço do Crime. Desta forma, Burton ilustra que diante da vingança, nem mesmo o Batman é de ferro, e acaba que o fato do Batman matar é mais uma qualidade do filme, e as pessoas o enxergam, erroneamente, como um defeito.
Tá, tá, tá, tá, vamos logo para esse assunto: O Coringa. Jack Nicholson é o Coringa. Sendo este o único filme que explora as origens do Palhaço, adaptando-o como um gangster antes de se tornar o psicopata popularmente conhecido, Nicholson usufrui deste detalhe acrescentado para mostrar a sociopatia e as tendências insanas de Jack Napier até o momento em que este conhece o Batman, cai num tanque de dejetos químicos e pira de vez. Nicholson representa o Coringa clássico, o palhaço e brincalhão, mas sádico e doente - e isso também recebe a devida ênfase, como por exemplo quando o Coringa diz descaradamente que é um artista, e não um assassino, ou quando admira as fotografias mais macabras da repórter Vicki Vale.
E a química com Michael Keaton? Perfeita. Arrisco dizer que este filme explora muito melhor a relação entre Batman e Coringa do que "O Cavaleiro das Trevas" fez, você sente entre os dois personagens basicamente a mesma tensão que sente lendo o clássico "A Piada Mortal", que por acaso foi a maior inspiração de Burton para o filme.
Por mais que não chegue aos pés da Mulher-Gato e de Andrea Beaumont, Vicki Vale, interpretada por Kim Basinger, faz um belo par romântico com o vigilante mascarado. A repórter fanática por morcegos torna-se um personagem interessante por seu senso investigativo, e também serve de contraponto às mocinhas burras em filmes de heróis que só sabem se meter em apuros. Vicki Vale é uma donzela inteligente, o único motivo pelo qual ela acaba sendo colocada em perigo é a obsessão que o Coringa tem por ela.
Em meio à estes ótimos personagens, há alguns falhos ou mal aproveitados. Alexander Knox, parceiro de Vicki interpretado por Robert Wuhl, é irritante e totalmente descartável para a trama. O Comissário Gordon de Pat Hingle é o defeito mais notável do filme justamente por ser mal utilizado. Não vemos aqui a cooperação clássica entre Gordon e Batman para pegar os bandidos, eles mal dirigem palavras um ao outro. Porém, este defeito acaba sendo ofuscado pela grandiosidade do filme.
A trilha sonora de Danny Elfman é o grande ponto que o Batman de Christopher Nolan não conseguiu superar (além do Coringa), tendo no máximo chegado ao mesmo nível com as composições de Hans Zimmer e James Newton Howard. Sombria e épica, a música de Elfman deixou sua marca como o som do Batman, e é com certeza um dos aspectos do filme que vieram a influenciar os anos seguintes de histórias do Cavaleiro das Trevas, especialmente sua premiada série animada.
A mixagem de som e a caracterização geral do filme lembram bastante o estilo de film-noir e filmes de gangsters. Os sobretudos, os chapéus, os sets impressionantes, o vapor saindo dos bueiros, os becos e etc. Um pouco diferente do padrão que Tim Burton assumiu em suas próximas produções, mas ainda sim, detalhes que realçam o tom obscuro da fita. Até mesmo aparência dos bandidos de rua neste longa é característica dele mesmo.
"Batman" é um clássico indiscutível que trouxe à vida um mito dos quadrinhos. Quem diria que mesmo fazendo inúmeros filmes ótimos e alguns medianos em sua carreira, um dos primeiros de um jovem Tim Burton ainda é o melhor que ele já fez, e não é por dois personagens que este filme vai deixar de receber uma nota máxima aqui.
Nota: 10,0
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