20.3.12

"Silent Hill: Downpour" e a arte do terror...


[...]
A série Silent Hill foi iniciada pela Konami nos anos 90, com um jogo inovador para o padrão da época. A temática? Terror. O medo traçado pelo pensamento maquiavélico de Lovecraft, instigando o jogador a temer o desconhecido, a entrar numa atmosfera de medo que trouxesse uma certa insegurança através de cada porta. Uma série que consagrou-se graças às notáveis falhas gráficas. Problemas nos detalhes e serrilhado foram encobertos pela densa névoa, e seguidamente pela escuridão sem fim.


Leão Valente apresenta,
SILENT HILL: DOWNPOUR
“ Who can stop the rain? ” 

Downpour é o mais recente capítulo dessa série, e trás para os fãs da série, um presente inestimável. O game não foi desenvolvido pela Konami, que deixou o trabalho à cargo da finlandesa Vatra. E, nossa, como finlandeses fazem bons jogos de terror. Primeiro a franquia Alan Wake (esclusivo para o Xbox 360), e agora o mais novo capítulo de Silent Hill (em multiplataforma, para PS3, X360 e PC).  Como o amigo Jack Estripador fala: vamos por partes, começando com o trailer oficial lançado na E3.


O SOBREVIVENTE
O protagonista da vez é Murphy Pendleton, que diferentemente de alguns jogos anteriores, não é um inocente buscando deixar a cidade com vida. Ao início da aventura, Murphy conta com uma troca de favores com um dos oficiais da prisão para assassinar um homem chamado Napier, por motivos que virão à tona mais tarde. Murphy é um presidiário, e tudo que a sessão de spoilers dirá é que o número inserido em seu traje penitenciário indica desde violência à assassinato infantil. Durante a viagem para outro presídio, um acidente na rodovia sentencia os presidiários à sobreviver em Silent Hill. Temos a visão de Murphy diante dos acontecimentos, e, como sempre, Silent Hill é tão bem construída que soa como poesia. Um detalhe muito legal sobre Murphy, é seu medo. Ao contrário de Harry Mason ou James Sunderland, pessoas que lutaram contra as armadilhas da cidade para ter em seus braços alguém que amavam, Murphy não é uma alma inocente, e não está disposto a aceitar tal desafio. Ele apresenta o sentimento primitivo que qualquer pessoa naturalmente teria diante de Silent Hill: medo. O medo do desconhecido, uma vez descrito por H.P. Lovecraft como o mais brutal.
Anne Cunningham aparece como uma co-protagonista, sendo ela a policial responsável pelo ônibus carcerário. Durante sua estadia em Silent Hill, trata de caçar Murphy, o que os leva à uma relação de ódio inicial, e superação final. O que inicialmente parece uma obcessão inexplicável (Anne caça apenas a Murphy, ignorando todos os outros prisioneiros que escaparam após o acidente).

Murphy e Anne.
Chega a ser curioso o fato de ter se livrado da prisão, e estar “livre” nessa cidade. A primeira pessoa encontrada é Howard Blackwood, um carteiro. Sim, apenas um carteiro, mas que vive na cidade desde os tempos coloniais. Durante Downpour, pouco é dito sobre ele, apenas suas aparições pontuais e a entrega de uma importante carta à Murphy. Howard é calmo, paciente, e age como se a cidade estivesse em dias normais, apenas perguntando-se sobre o silêncio casual. Mais sobre seu passado foi revelado na minissérie em quadrinhos publicada nos E.U.A. chamada “Past Life”, mostrando outro evento bizarro ocorrido anos no passado.

A CIDADE E O INFERNO.
Silent Hill chega a ser poética. Os saudosistas, como eu, realmente devem agradecer à Vatra pela imensidão de detalhes e possibilidade de exploração. No primeiro jogo da série, a névoa foi um recurso utilizado para encobrir imperfeições gráficas, basicamente um tapa-buraco. Mas, a mesma névoa ganhou um significado icônico. Você não enxerga muito, sua visão está limitada pela cortina branca que cobre as ruas. Ao caminhar pela cidade, e investigar diversos locais, desde as próprias ruas às casas (sim, dessa vez você pode entrar em diversas residências). A área explorada é a zona sul, ainda inédita, porém já citada no icônico jogo pioneiro da série. O cenário é divido em cinco grandes localidades: as ruas, a mina Devil’s Pit, a estação de rádio, o orfanato e uma enorme prisão. Em cada lugar, a cidade parece viva. 
De um modo diferente quanto aos outros jogos da série, dessa vez o clima influencia o ritmo do jogo. “Downpour” é traduzido como “Chuva Torrencial”, e desde fracos gotejos de chuva à uma verdadeira tempestade podem surpreender o jogador. A nível de curiosidade, a chuva não é um fator meramente ilustrativo. Conforme a chuva aumenta, e os raios cortam os céus, o ambiente se torna mais escuro, e o número de criaturas nas ruas aumenta. Tal como todos os jogos da franquia, monstros bizarros estão espalhados pela cidade, e dessa vez a água os orienta. A depender da dificuldade (se quer um desafio, escolha o modo difícil, pois os níveis fáceis não valem a pena), enfrentar um inimigo é aceitável, e acima disso, amor ao suicídio. Considerando o ambiente chuvoso, estarão mais ferozes e em maior número.  Após os acontecimentos que acabaram com a sentença de Murphy à prisão (jogues e saberás), o protagonista desenvolveu um quadro clínico chamado “hidrofobia”. Ele tem medo de água. É através da água que a cidade se move nesse capítulo da franquia. Apresentada apenas na forma de chuva durante a versão normal da cidade, a água é parte integrante do chamado Mundo Alternativo, a versão demoníaca (ou “mais demoníaca ainda”) de Silent Hill. 
O Mundo Alternativo teve sua chegada identificada por sirenes durante os primeiros jogos, avisando aos sobreviventes que é sua hora de buscar um lugar seguro e rezar por suas vidas até que a luz volte. Dessa vez, o mundo alternativo surge, na grande maioria das vezes através de alarmes de incêndio que Murphy é obrigado a acionar, como uma “pegadinha” o obrigando a uma nova série de desafios caso pretenda sobreviver e seguir adiante. Visualmente, o Mundo Alternativo está diferente das versões anteriores, adaptado aos acontecimentos que sentenciaram Pendleton à sua estadia na doce Silent Hill. Se o Mundo Alternativo para Mason, no primeiro jogo, apresentava corpos carbonizados, cadeiras de rosas e correntes, para Pendleton os itens mais comuns são alusões à sua vida de casado anos atrás, e aos erros que cometeu. A alma da cidade está representada pela criatura batizada como “Boogeyman (traduzido na versão brasileira como Homem do Saco)”, um mito popular utilizado por alguns pais para instigar medo em seus filhos e evitar que falem com estranhos ou se comportem mal. Ele não é apenas um mito do folclore popular, mas representa os próprios pecados e motivações de Murphy, o guiando ao fim do caminho iniciado no acidente da rodovia.

GRÁFICOS E JOGABILIDADE
A jogabilidade de Downpour faz um paradoxo com a dos jogos anteriores. Silent Hill sempre foi clássica pelo modo de combate travado, o que em parte gerava frustração. Ouve uma tentativa drástica de mudança no combate durante o titulo “Homecoming”, e as críticas continuaram por conta do combate ser “artificial demais”. O que os críticos de plantão preferiram não enxergar, era que homens como Mason, Sunderland e até Pendleton, não são atiradores de elite ou lutadores faixa preta. São apenas homens normais que precisam fazer o necessário, embora de fato não tenham a devida prática. Em Homecoming, Alex Sheperd é inicialmente um soldado, e utiliza suas técnicas de combate diante das ameaças, mas, a negação do publico foi extrema. Por isso, Downpour foi o oposto, contando com um menu limitadíssimo que permite que o jogador carregue apenas uma arma branca e uma arma de fogo. A munição é escassa, e as armas brancas se desgastam e quebram de acordo com o uso. Murphy é lento, não rola ou dá saltos mortais, apenas se esquiva e defende com dificuldade. É a simulação perfeita de um combate real nessas circunstâncias, coroada pela mira trêmula ao empunhar uma pistola.
Os gráficos não decepcionam, com um nível ótimo de detalhismo. A cidade parece estar viva, permitindo que até as folhas que caem das árvores sejam plenamente visíveis. Tanto em ambiente externo, interno e alternativo, os detalhes se sobressaem. Porém, ocorre uma queda de qualidade em certos pontos do jogo, tal como alguns lags durante o momento de autosave. Apesar de não atrapalharem a diversão, tornam-se incômodos. Porém, a qualidade supera. Abaixo, um gameplay dos primeiros minutos.


CONCLUSÃO
A Vatra resgatou a arte do medo através de “Silent Hill: Downpour”, que pode ser traduzido como um dos melhores capítulos da franquia. A nostalgia é contagiante em alguns pontos, permitindo que ouçamos trechos da trilha sonora do primeiro jogo, lembrando do legado de Alessa Gillespie. Downpour vale a pena, e é indispensável aos fãs da série.

Nota: 8,5

1 comentários:

  1. uma das melhores analises que vi ate agora... as outras somente falam mal do jogo, imaginando ele como um dead space(criticaram o jeito de combate no jogo - que sempre esteve presente de modo precario, porem proposital, para causar um desespero a mais). para mim, esse jogo foi o melhor de terror dessa geraçao, superando facil dead space - que nao me deu tanto medo, devido à ammbientaçao e o uso constante de armas de fogo(que nao me causam medo, e tiram o sentimento de inutilidade tao temido).

    ResponderExcluir