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A série Silent Hill foi iniciada pela Konami nos anos 90,
com um jogo inovador para o padrão da época. A temática? Terror. O medo traçado
pelo pensamento maquiavélico de Lovecraft, instigando o jogador a temer o
desconhecido, a entrar numa atmosfera de medo que trouxesse uma certa
insegurança através de cada porta. Uma série que consagrou-se graças às
notáveis falhas gráficas. Problemas nos detalhes e serrilhado foram encobertos
pela densa névoa, e seguidamente pela escuridão sem fim.
Leão Valente apresenta,
SILENT HILL: DOWNPOUR
SILENT HILL: DOWNPOUR
“ Who can stop the rain? ”
Downpour é o mais recente capítulo dessa série, e trás para
os fãs da série, um presente inestimável. O game não foi desenvolvido pela
Konami, que deixou o trabalho à cargo da finlandesa Vatra. E, nossa, como
finlandeses fazem bons jogos de terror. Primeiro a franquia Alan Wake
(esclusivo para o Xbox 360), e agora o mais novo capítulo de Silent Hill (em
multiplataforma, para PS3, X360 e PC).
Como o amigo Jack Estripador fala: vamos por partes, começando com o trailer oficial lançado na E3.
O SOBREVIVENTE
O protagonista da vez é Murphy Pendleton, que diferentemente
de alguns jogos anteriores, não é um inocente buscando deixar a cidade com
vida. Ao início da aventura, Murphy conta com uma troca de favores com um dos
oficiais da prisão para assassinar um homem chamado Napier, por motivos que
virão à tona mais tarde. Murphy é um presidiário, e tudo que a sessão de
spoilers dirá é que o número inserido em seu traje penitenciário indica desde
violência à assassinato infantil. Durante a viagem para outro presídio, um
acidente na rodovia sentencia os presidiários à sobreviver em Silent Hill.
Temos a visão de Murphy diante dos acontecimentos, e, como sempre, Silent Hill é
tão bem construída que soa como poesia. Um detalhe muito legal sobre Murphy, é
seu medo. Ao contrário de Harry Mason ou James Sunderland, pessoas que lutaram
contra as armadilhas da cidade para ter em seus braços alguém que amavam,
Murphy não é uma alma inocente, e não está disposto a aceitar tal desafio. Ele apresenta
o sentimento primitivo que qualquer pessoa naturalmente teria diante de Silent
Hill: medo. O medo do desconhecido, uma vez descrito por H.P. Lovecraft como o
mais brutal.
Anne Cunningham aparece como uma co-protagonista, sendo ela
a policial responsável pelo ônibus carcerário. Durante sua estadia em Silent
Hill, trata de caçar Murphy, o que os leva à uma relação de ódio inicial, e
superação final. O que inicialmente parece uma obcessão inexplicável (Anne caça
apenas a Murphy, ignorando todos os outros prisioneiros que escaparam após o
acidente).
Murphy e Anne. |
Chega a ser curioso o fato de ter se livrado da prisão, e
estar “livre” nessa cidade. A primeira pessoa encontrada é Howard Blackwood, um
carteiro. Sim, apenas um carteiro, mas que vive na cidade desde os tempos
coloniais. Durante Downpour, pouco é dito sobre ele, apenas suas aparições
pontuais e a entrega de uma importante carta à Murphy. Howard é calmo,
paciente, e age como se a cidade estivesse em dias normais, apenas
perguntando-se sobre o silêncio casual. Mais sobre seu passado foi revelado na
minissérie em quadrinhos publicada nos E.U.A. chamada “Past Life”, mostrando
outro evento bizarro ocorrido anos no passado.
A CIDADE E O INFERNO.
Silent Hill chega a ser poética. Os saudosistas, como eu,
realmente devem agradecer à Vatra pela imensidão de detalhes e possibilidade de
exploração. No primeiro jogo da série, a névoa foi um recurso utilizado para
encobrir imperfeições gráficas, basicamente um tapa-buraco. Mas, a mesma névoa
ganhou um significado icônico. Você não enxerga muito, sua visão está limitada
pela cortina branca que cobre as ruas. Ao caminhar pela cidade, e investigar
diversos locais, desde as próprias ruas às casas (sim, dessa vez você pode
entrar em diversas residências). A área explorada é a zona sul, ainda inédita,
porém já citada no icônico jogo pioneiro da série. O cenário é divido em cinco
grandes localidades: as ruas, a mina Devil’s Pit, a estação de rádio, o
orfanato e uma enorme prisão. Em cada lugar, a cidade parece viva.
De um modo
diferente quanto aos outros jogos da série, dessa vez o clima influencia o ritmo
do jogo. “Downpour” é traduzido como “Chuva Torrencial”, e desde fracos gotejos
de chuva à uma verdadeira tempestade podem surpreender o jogador. A nível de
curiosidade, a chuva não é um fator meramente ilustrativo. Conforme a chuva
aumenta, e os raios cortam os céus, o ambiente se torna mais escuro, e o número
de criaturas nas ruas aumenta. Tal como todos os jogos da franquia, monstros
bizarros estão espalhados pela cidade, e dessa vez a água os orienta. A depender
da dificuldade (se quer um desafio, escolha o modo difícil, pois os níveis
fáceis não valem a pena), enfrentar um inimigo é aceitável, e acima disso, amor
ao suicídio. Considerando o ambiente chuvoso, estarão mais ferozes e em maior
número. Após os acontecimentos que acabaram
com a sentença de Murphy à prisão (jogues e saberás), o protagonista
desenvolveu um quadro clínico chamado “hidrofobia”. Ele tem medo de água. É através
da água que a cidade se move nesse capítulo da franquia. Apresentada apenas na
forma de chuva durante a versão normal da cidade, a água é parte integrante do
chamado Mundo Alternativo, a versão demoníaca (ou “mais demoníaca ainda”) de
Silent Hill.
O Mundo Alternativo teve sua chegada identificada por sirenes durante
os primeiros jogos, avisando aos sobreviventes que é sua hora de buscar um
lugar seguro e rezar por suas vidas até que a luz volte. Dessa vez, o mundo
alternativo surge, na grande maioria das vezes através de alarmes de incêndio
que Murphy é obrigado a acionar, como uma “pegadinha” o obrigando a uma nova
série de desafios caso pretenda sobreviver e seguir adiante. Visualmente, o
Mundo Alternativo está diferente das versões anteriores, adaptado aos
acontecimentos que sentenciaram Pendleton à sua estadia na doce Silent Hill. Se
o Mundo Alternativo para Mason, no primeiro jogo, apresentava corpos
carbonizados, cadeiras de rosas e correntes, para Pendleton os itens mais
comuns são alusões à sua vida de casado anos atrás, e aos erros que cometeu. A alma
da cidade está representada pela criatura batizada como “Boogeyman (traduzido
na versão brasileira como Homem do Saco)”, um mito popular utilizado por alguns
pais para instigar medo em seus filhos e evitar que falem com estranhos ou se
comportem mal. Ele não é apenas um mito do folclore popular, mas representa os
próprios pecados e motivações de Murphy, o guiando ao fim do caminho iniciado
no acidente da rodovia.
GRÁFICOS E JOGABILIDADE
A jogabilidade de Downpour faz um paradoxo com a dos jogos
anteriores. Silent Hill sempre foi clássica pelo modo de combate travado, o que
em parte gerava frustração. Ouve uma tentativa drástica de mudança no combate
durante o titulo “Homecoming”, e as críticas continuaram por conta do combate
ser “artificial demais”. O que os críticos de plantão preferiram não enxergar,
era que homens como Mason, Sunderland e até Pendleton, não são atiradores de
elite ou lutadores faixa preta. São apenas homens normais que precisam fazer o
necessário, embora de fato não tenham a devida prática. Em Homecoming, Alex
Sheperd é inicialmente um soldado, e utiliza suas técnicas de combate diante
das ameaças, mas, a negação do publico foi extrema. Por isso, Downpour foi o
oposto, contando com um menu limitadíssimo que permite que o jogador carregue
apenas uma arma branca e uma arma de fogo. A munição é escassa, e as armas
brancas se desgastam e quebram de acordo com o uso. Murphy é lento, não rola ou
dá saltos mortais, apenas se esquiva e defende com dificuldade. É a simulação
perfeita de um combate real nessas circunstâncias, coroada pela mira trêmula ao
empunhar uma pistola.
Os gráficos não decepcionam, com um nível ótimo de
detalhismo. A cidade parece estar viva, permitindo que até as folhas que caem
das árvores sejam plenamente visíveis. Tanto em ambiente externo, interno e
alternativo, os detalhes se sobressaem. Porém, ocorre uma queda de qualidade em
certos pontos do jogo, tal como alguns lags durante o momento de autosave. Apesar
de não atrapalharem a diversão, tornam-se incômodos. Porém, a qualidade supera. Abaixo, um gameplay dos primeiros minutos.
CONCLUSÃO
A Vatra resgatou a arte do medo através de “Silent Hill:
Downpour”, que pode ser traduzido como um dos melhores capítulos da franquia. A
nostalgia é contagiante em alguns pontos, permitindo que ouçamos trechos da
trilha sonora do primeiro jogo, lembrando do legado de Alessa Gillespie.
Downpour vale a pena, e é indispensável aos fãs da série.
Nota: 8,5
uma das melhores analises que vi ate agora... as outras somente falam mal do jogo, imaginando ele como um dead space(criticaram o jeito de combate no jogo - que sempre esteve presente de modo precario, porem proposital, para causar um desespero a mais). para mim, esse jogo foi o melhor de terror dessa geraçao, superando facil dead space - que nao me deu tanto medo, devido à ammbientaçao e o uso constante de armas de fogo(que nao me causam medo, e tiram o sentimento de inutilidade tao temido).
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