Por “Kelvim Valente”
Conheci a série “Vampiro Americano” por conta de sites
especializados, e não demorou para que a minha vontade em adquirir o que fosse
possível e ler viesse. Primeiro, o receio. Vampiros, hoje? Uma temática
banalizada pela cultura pop adolescente pode render algo bom? E hoje eu sinto
raiva por questionar isso. Skinner não é o vampiro que sua irmãzinha gosta. Em tempos
do retorno de Carrie, vi que apresentar a primeira empreitada de Stephen King
no mundo dos quadrinhos, sob as ordens do grande Scott Snyder e impecável arte
de Rafa Albuquerque é necessário.
Vamos aos pilares da história. A temática baseia-se no velho oeste, apresentando um dos cenários melhor utilizados pelo cinema. Clint Eastwood em suas inúmeras empreitadas em westerns, e mais atualmente o clássico moderno “Django Livre”, entre ouros inúmeros sucessos, seja em seu tempo quanto através dele. Mas, porque falar de cinema? O primeiro cenário abordado é Hollywood, através de uma jovem atriz chamada Pearl Jones, que ao longo da saga cresce de uma forma inimaginável. A história se divide em dois períodos, um narrado um 1925 que obtém total foco em Pearl, numa Hollywood glamurosa nos primórdios do cinema, mas ainda assim dominada pela obscuridade, e uma abordagem puramente “western” em 1880, nos confins da Califórnia, onde o assaltante Skinner Sweet é levado pelas autoridades após sua captura.
Pearl Jones, cuja origem é escrita por Snyder, é retratada
como uma atriz promissora, que se mudou para Hollywood em busca de um sonho, e
batalha dia e noite por ele. Caracterizada por uma tatuagem de um girassol
negro ao topo das costas e cabelos e de um sorriso ingênio. Infelizmente, o
submundo conspira contra ela, e logo na primeira edição uma emboscada preparada
pelos temidos Vampiros Europeus deveria ser o bastante para matá-la. Uma jovem
indefesa contra um mundo sombrio e cruel. A sobrevivência de Pearl se dá por
conta de Sweet, que a transforma em sua obra prima. De início ela representa
uma mocinha indefesa, mas seu papel tem um crescimento exponencial. Ao longo da
série, e além dessas cinco primeiras edições compiladas pela editora Panini num
encadernado de luxo, ela se transforma numa das maiores e mais profundas
personagens que já pude ver em uma história em quadrinhos. Ainda nesse início,
encontra ao lado de Henry Preston um porto seguro, um amor para toda a vida,
uma caminhada que se torna memorável conforme o tempo passa.
O protagonista e centro das atenções em ambas as histórias é Skinner Sweet, que tem sua origem contada por Stephen King, co-escrito pelo criador Snyder. Skinner tem um conceito simples, e até “clichê” à primeira vista. Ele é um bem sucedido assaltante de bancos, que numa má investida foi pego pelo agente da lei James Book. Apesar do protagonismo, em momento algum a história é narrada através do ponto de vista de Sweet. Isso lembra a atitude de Frank Miller ao narrar “Ano Um” sob o ponto de vista do Comissário Gordon. A narrativa ocorre através do escritos Will Bunting, que acompanhava o detetive Book na caçada ao assaltante, e escrevia tudo o que via nos moldes de um diário. Após os acontecimentos que estão além dos spoilers dessa resenha, ele lança um livro de “ficção” contando a história de Skinner, uma vez que seu livro continha fatos extraordinários demais para ser vendido como uma obra real. O livro intitulado “Sangue Ruim” foi o único livro bom de Bunting, mas foi o suficiente para fazer sua carreira e garantir sua aposentadoria. A história se inicia com Bunting em um grande evento que auto-promoveu, onde pretende convencer aos espectadores que tudo o que escreveu por Skinner é de fato realidade.
Skinner nunca foi o herói, mesmo em sua própria história. Esse
papel cabe a James Book, retratado como um homem de valores além da humanidade.
Dedicou sua vida à lei, e parte dela a acabar com aquele que viria a se tornar
o Vampiro Americano. Mas, como Skinner se transforma no Vampiro Americano? A
história é centrada no primeiro vampiro nos Estados Unidos, criado nos Estados
Unidos. Seu assalto mau sucedido foi ao banco de um aristocrata chamado Percy,
um vampiro europeu. A maldição vem através do sangue. Segundo as palavras de
Skinner, “quando o sangue encontra alguém novo, num lugar novo, ele gera algo
novo”. Essa é a explicação, e o mistério. Além do seu vício por doces – que gera
cenas cômicas inesquecíveis – ele não tem escrúpulos, ou algum clamor por moralidade.
O que o torna imprevisível, sendo sádico, porém calculista. O que o diferencia
do Coringa, além do visual inspirado em Kurt Cobain, é a sanidade. Ao longo dos
capítulos, Bunting revela mais sobre Skinner, e mais sobre as atitudes heroicas
de James Book, que representa a face oposta do vampiro.
Sobre a arte, Rafael Albuquerque nos presenteia com desenhio incríveis, sujos quando necessário, limpos e impecáveis quando se pede. As expressões sacanas de Skinner, a tristeza de Will e a serenidade amável de Pearl são retratadas com uma precisão quase sobrenatural. Tudo com a colorização de David McCaig, que complementa e aperfeiçoa o que o brasileiro desenha. Sobre o roteiro. A associação entre Scott Snyder e a lenda Stephen King rendeu uma saga vencedora do prêmio Will Eisner para melhor lançamento de 2010. Essa foi a primeira tentativa de King em escrever numa plataforma muito diferente dos livros, mas... mesmo com sua genialidade para o terror e o suspense, ele não obteria esse sucesso sem Scott Snyder, e relata que sem seu auxílio e as definições sobre os conceitos e a temática da história, talvez não houvesse glória. A participação de Stephen King dura cinco edições, mas a genialidade de Scott permanece mensalmente. Não tenha dúvidas. Falar mais implica em falar sobre o roteiro, o que de acordo com o peso da narrativa e das surpresas que aguardam ao longo das páginas, seria um crime. Leia.
Nota: 10
“ Um início promissor, um desenvolvimento emblemático, e
certamente um legado para as próximas gerações. ” - Kelvim Valente.
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